Veja as mentiras mais bizarras que candidatos já contaram a recrutadores
Currículos com informações falsas ou exageradas são comuns em processos seletivos. As mentiras mais comuns estão relacionadas a experiência de trabalho (56%), formação (46%), habilidades técnicas (44%) e idiomas (39%), segundo pesquisa da consultoria de RH Robert Half, realizada em julho.
Dos 303 diretores gerais entrevistados no país para o levantamento, 75% já dispensaram um candidato depois de descobrir que ele havia maquiado seus dados para entrar na empresa.
“Hoje, é bem difícil uma mentira passar. Temos muitos recursos para checar”, afirma Thammy Arnaud, diretora de RH da GE do Brasil. “Assim que recebemos o nome de quem está concorrendo à vaga, já o procuramos na internet, nas redes sociais.”
Os recrutadores também costumam ir atrás de referências dos candidatos nas empresas por onde já passaram. Além disso, eles são treinados para buscar inconsistências durante a entrevista e até mesmo sinais que denunciem que a pessoa está escondendo a verdade, como desviar o olhar ou ficar com a voz trêmula, por exemplo.
A mentira mais fácil de ser detectada é a proficiência no idioma. Se ela for essencial para a vaga, vai ser testada em alguma etapa da seleção.
Forçar a barra e dizer que o inglês é avançado quando, na verdade, é intermediário, pode desclassificar o candidato, mas nem sempre vai queimá-lo. “Pode ser também uma falha de autoavaliação”, pondera Caroline Cadorin, diretora da recrutadora Hays.
Mas nada salva aqueles que aumentam a importância de cargos já ocupados ou transformam um curso de duas semanas em MBA. “Se a pessoa mente por coisa tão pequena, quem garante que não vai agir assim quando for contratada?”, afirma Arnaud.
Outra situação recorrente é o candidato esconder o real motivo de saída do emprego anterior. “A pessoa acha lindo falar que ‘está em busca de novos desafios’, mas não há vergonha em contar que foi desligada”, diz Larissa Meiglin, supervisora de assessoria de carreira da Catho.
Mas não é preciso exagerar na sinceridade e entrar em detalhes que possam ser mal interpretados. “Por isso é importante se preparar para a entrevista. Se há um ponto frágil, o candidato já deve esquematizar a resposta de forma a levar o foco para suas qualidades, mas sem faltar com a verdade”, diz Meiglin.
INVESTIGAÇÃO
Para garantir a contratação de pessoas idôneas, em especial para posições de confiança, empresas buscam o serviço de “background check”, uma verificação de histórico profissional e de reputação.
Além de checar as instituições onde o candidato já trabalhou e estudou, as investigações buscam atividades irregulares, ligações partidárias, conflitos de interesse e menções problemáticas na imprensa, explica Carlos Lopes, diretor da Kroll, consultoria em gestão de riscos e investigações corporativas.
Segundo ele, as investigações duram até duas semanas. “Recebemos as informações dos candidatos e confirmamos sua veracidade.”
Colaborou ANNA RANGEL
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Perna curta
Histórias bizarras de candidatos que tentaram driblar recrutadores
QUASE IGUAL
Em uma dinâmica de grupo, um candidato, de uma hora para a outra, mudou de personalidade. No início da atividade, suas respostas batiam exatamente com o que ele havia preenchido na ficha de inscrição pela internet. Da metade em diante, nenhuma informação coincidia.
No fim do processo, os recrutadores o chamaram para uma conversa, para entender o que estava acontecendo. Pressionado, ele revelou que compareceu no lugar do irmão gêmeo, que havia ficado em casa por causa do nervosismo.
Por sorte, a empresa gostou do seu perfil e valorizou a iniciativa de ter ajudado o irmão. Acabou contratado e o outro gêmeo, eliminado.
GATO DEDO-DURO
Em uma entrevista por vídeo, de um lado, estava um candidato a uma vaga de engenharia e, do outro, um recrutador de uma multinacional. A conversa fluía bem até o entrevistador fazer uma pergunta bastante técnica, que exigia uma resposta muito específica.
O candidato ficou parado, sem mexer um músculo. Ele achou que conseguiria fugir da questão se fizesse parecer que o vídeo havia travado. Mas, bem na hora, um gato passou por trás dele. O recrutador percebeu e, para evitar o constrangimento, seguiu para a próxima pergunta. Por coincidência, o vídeo destravou.
PAI DE FAMÍLIA
Para concorrer a uma posição de gerência em uma indústria química, um candidato afirmou que era casado e tinha dois filhos pequenos. Foi aprovado.
Por sete meses, trabalhou na empresa como se tivesse uma família o aguardando em casa. No fim, descobriu-se que ele nunca havia sido casado e muito menos tido filhos. Segundo o recrutador, a vaga não fazia qualquer exigência quanto a isso, mas o profissional acreditou que passaria mais confiança aos superiores se fosse um pai de família. Acabou demitido, não por ser solteiro, mas por ser mentiroso.
MESTRE DA WEB
Por e-mail, o recrutador recebeu um currículo que lhe chamou muito a atenção. Nele, um senhor dizia ser o grande responsável por trazer a internet para o Brasil. O recrutador, então, acreditou que não poderia perder a oportunidade de entrar em contato com alguém tão relevante para a história do país.
Por telefone, pediu para que ele contasse mais sobre a empreitada. Do outro lado da linha, o candidato disparou a falar, sem explicar nada. Ainda por cima, começou a mostrar sua “fluência” em um idioma inexistente. Bem loucão.
DIPLOMA FRIO
Por um ano, um profissional trabalhou em um cargo operacional em uma fábrica, no qual precisava ter concluído uma graduação para atuar. A empresa passou por uma auditoria externa, que descobriu que o profissional nunca havia passado por uma faculdade.
O diploma que ele havia apresentado no momento da contração era falso. A empresa, então, demitiu o impostor, mas não quis alegar justa causa.
BEM A TEMPO
Numa plataforma on-line, usada na primeira fase de um processo seletivo para uma vaga de estágio em uma multinacional, o candidato tinha que responder às perguntas de um questionário gravando vídeos, com duração determinada.
Na questão sobre o nível de inglês, foi pedido que ele falasse na língua estrangeira. Em português, ele contou que havia se formado numa conhecida escola de idiomas e que se comunicava muito bem em inglês. “Inclusive, vou dar uma palinha agora para vocês”, disse. Respirou fundo, se concentrou e, então, o tempo do vídeo se esgotou.
LÍDER NATO
Ter experiência em gestão de pessoas era requisito básico para uma vaga de gerente. Por telefone, o candidato garantiu ao recrutador que tinha prática no assunto. Foi chamado, então, para uma conversa presencial.
O entrevistador pediu que ele discorresse sobre a sua experiência como gestor em cada empresa pela qual havia passado. Mas o profissional não tinha nada o que contar sobre nenhuma delas. “Onde você fez gestão de pessoas, então?”, indagou o recrutador, já perdendo a paciência. “Na minha casa. Você não tem noção o trabalho que minha mulher e meus filhos me dão”, respondeu.
FUGIDINHA
A vaga era para um cargo gerencial. Um das principais exigências: inglês fluente. Para a fase de entrevistas, só foram chamados os profissionais que haviam declarado no currículo que atendiam a esse requisito. Durante a primeira parte da conversa, a candidata discorreu bem sobre sua experiência em multinacionais.
Em um dado momento, o recrutador pediu para que continuassem a entrevista em inglês. “Claro, você me daria só alguns minutinhos para eu ir ao banheiro?”, pediu a executiva. Ele esperou cinco, dez, vinte minutos. A candidata nunca mais apareceu.
Fontes: Fernanda Mello, especialista em atração de talentos da 99 Jobs; Sócrates Melo, gerente regional da Randstad Professionals; Felipe Brunieri, gerente de divisão da Talenses; Thammy Arnaud, diretora de RH da GE do Brasil; e Miriam Rodrigues, especialista em gestão de pessoas do Mackenzie | Folha de SP